O que mais escutamos é que precisamos sair da nossa zona de conforto, principalmente profissionalmente, mas também em outras áreas da vida. Mas o que significa exatamente isso? Bom, o significado específico para cada um varia muito, não sendo possível chegar a uma só resposta para esta pergunta. Mas de maneira geral acredito que seja nos expor a situações em que não nos sentimos confiantes e que nos causam certo incômodo. Como disse, as particularidades dessa definição são muito pessoais, sendo que somente posso falar por mim. Em geral, sinto que saio da minha zona de conforto com bastante frequência. Não porque eu goste ou procure isso, mas talvez porque a abrangência da minha chamada “zona de conforto” seja relativamente pequena.

No meu caso, mudanças em geral já me deixam assim. E, veja bem, eu gosto de mudanças. Mas elas me tiram da minha zona de conforto. Não saber muito bem o que esperar das situações é algo que mexe muito comigo. Eu sei que algumas pessoas gostam bastante dessa imprevisão ou não se afetam tanto com isso, não é o meu caso. Não saber como as coisas vão acontecer é algo bastante difícil para mim, mas, como todos sabemos, é algo que acontece mais do que o contrário, na verdade. Essa necessidade de controle frustrada pode ser bem desconfortável, mesmo porque parece que as mudanças quando vêm não chegam aos poucos, com parcimônia. Elas gostam de vir todas de uma vez mesmo. Tornando a experiência um pouco mais intensa do que seria necessário.

Entendo que seja importante de tempos em tempos sairmos da nossa zona de conforto, pois muitas vezes é só assim que conseguimos alcançar coisas que desejamos. O problema acontece quando parece que estamos vivendo constantemente fora dela, e o que era para ser algo rápido, passageiro, um empurrãozinho para te impulsionar em uma determinada direção, parece não ter fim. Isso gera um desconforto físico constante e
um cansaço sem explicação, porque, sim, sair da zona de conforto consome uma energia enorme. Mas muitas vezes não tem muito o que fazer, não dá para desistir no meio do caminho porque está demorando demais para a sensação passar, temos que continuar, do jeito que dá.

Nem permanecer eternamente dentro da sua zona de conforto, nem viver constantemente fora dela, esse para mim é o equilíbrio ideal. Devemos buscar, de vez em quando, fazer coisas com as quais não nos sentimos inteiramente confortáveis ou acostumados, mas sem ignorar que uma parte importante do desenvolvimento nesse processo também acontece dentro da zona de conforto, quando nos sentimos seguros e confortáveis,
sem tanto gasto extra de energia. É aí que normalmente conseguimos usar o melhor do nosso conhecimento, da nossa racionalidade, e até da nossa criatividade. Ambos são igualmente importantes no fim do dia, a diferença é que um nos é fácil e natural, enquanto que o outro nos exige esforço e coragem.

Escrever estes textos, por exemplo, foi sair da minha zona de conforto. Algo novo, que eu nunca tinha feito antes, e que envolve uma certa exposição, o que não é fácil. Mas acabei descobrindo que é bom, organiza meus pensamentos, envolve a comunicação, que é algo importante para mim, e permite que eu me expresse
de uma forma diferente da que eu estava acostumada. E é isso. Não dá para saber se o que nos tira da nossa zona de conforto hoje vai ou não ser algo bom para a gente no futuro. O que nos resta é continuar nos aventurando por águas desconhecidas mesmo, de tempos em tempos.

Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.