Começo a escrever sobre um tema que tem estado na minha cabeça bastante nos últimos meses: a coragem. Já aviso que será um texto clichê, e que provavelmente você não descobrirá nada que já não soubesse sobre o tema. Ainda assim, acho de extrema relevância pontuar o óbvio quando aparentemente, apesar de óbvio, o tema se mostra tão em desuso nos tempos modernos.
Estava outro dia a conversar com uma amiga sobre como grande parte das pessoas vivem vidas inteiras reclamando de casamentos falidos, de empregos que odeiam e as deprimem, de eternas vontades nunca satisfeitas por desculpas arranjadas. Sempre têm os filhos, os boletos, as obrigações, como empecilhos para justificar as decisões nunca tomadas.
(Importante ressaltar aqui neste momento que sempre existem as reais exceções a tudo o que será dito neste texto, e que não me refiro absolutamente a essas exceções, mas sim a casos mais corriqueiros e menos graves.)
De toda forma, te indago aqui agora: quando as pessoas realmente querem algo, esses “empecilhos” serão um impeditivo? E logo te respondo: não, não serão.
Quem nunca ouviu a história do casal que não vivia bem por anos a fio até que uma das partes se envolve extra conjugalmente com um terceiro e magicamente “de uma hora para outra” resolve finalmente se separar? Ou da pessoa que passou anos em um trabalho que absolutamente não suportava até que um dia teve um burnout (palavra da moda, que só os cringes conhecem) ou entrou em uma depressão tão forte que não conseguiu mais continuar no emprego? Ou ainda, daquela pessoa que passou a vida toda sempre falando de sonhos impossíveis de realizar (mas que sempre estiveram ali no fundo da cabeça) e que um belo dia recebe um diagnóstico médico trágico e resolve começar a realizar seus desejos imediatamente, da forma que consegue?
Tudo isso é para dizer que poucas coisas são empecilhos reais aos nossos desejos, o que nos falta na grande maioria das vezes é só coragem mesmo. E isso, por mais simples que possa parecer, nos tira totalmente da nossa zona de conforto. Sabe por quê? Porque isso quer dizer que tudo depende de nós mesmos no final do dia.
(Obviamente que vivendo numa sociedade tão desigual como a nossa não quero que esse discurso se aproxime em absoluto da “meritocracia” tão toscamente levantada em rodas de discussão de pessoas normalmente abastadas.)
Feito esse adendo, o que quero dizer é que grande parte das nossas decisões deveriam inevitavelmente passar por um mesmo caminho: o de tomar responsabilidade sobre nossas escolhas e, consequentemente, sobre a nossa vida.
O que eu acho que temos que entender é o porquê de somente nos sentimos autorizados a mudar, desistir, largar o que não nos faz bem quando chegamos ao fundo do poço. Por que somente depois de sentir que tentamos de tudo, mas simplesmente não aguentamos mais? Por que essas decisões não podem vir antes disso, antes do precipício?
Há um medo muito grande envolvido em tudo isso. O medo do desconhecido. Pois, as coisas estão ruins do jeito que estão, mas pelo menos é um ruim conhecido. E se (o famoso “e se”) eu tomar uma atitude e as coisas piorarem? Essa linha de raciocínio é exatamente o que faz com que as pessoas fiquem por meses, anos, por vezes a vida toda, presas a situações ruins, simplesmente por medo do desconhecido.
É claro que mudanças não são necessariamente fáceis, e não há uma certeza de êxito ao final. Por isso mesmo que é nessas horas temos que ter coragem.
Pode ser que tudo fique pior? Pode, essa é uma real possibilidade. Mas pode ser também que tudo fique melhor, e por essa você não esperava, hein?! Só mais uma coisa para tentar convencer o leitor mais desconfiado. Sabe a primeira possibilidade, a de que as coisas ficassem piores? Então, se isso acontecer você pode tentar de novo, e de novo, e de novo. Estatisticamente (não que eu saiba, mas imagino) as suas chances de êxito aumentarão exponencialmente.
De qualquer forma, o meu ponto é, por que ficar em uma situação ruim com medo de que ela fique pior? Já não está ruim? Vá atrás de algo que te faça bem, quem sabe você não se surpreende!
Confesso que os motivos pelos quais eu comecei a escrever esse texto foram absolutamente egoísticos. Sim, sei que parece que estou querendo ajudar o leitor, mas como sou adepta da sinceridade suicida confesso que os meus motivos são para o meu próprio bem-estar.
Sabe-se que uma pessoa que está de bem com a vida, satisfeita, até feliz eu diria (por que não?), não amola os demais, não cria picuinha, não é intrometida, não cria briga desnecessária. Assim, acredito que estou fazendo um serviço de utilidade pública aqui. Sim. Acredito que o mundo seria um lugar muito melhor de se viver se a nossa sociedade estimulasse que as pessoas tivessem mais coragem para Viver.
Teríamos pessoas menos frustradas, menos irritadiças, mais empáticas e pacientes, mais tolerantes com as diferenças, resumindo, que olhassem e se incomodassem menos com a grama do vizinho. Quase um filme da Disney com passarinhos cantantes ao fundo. Pensa que maravilha! Tá, posso estar exagerando um pouco. Masrealmente acredito que pelo menos um pouco já iria melhorar. E “um pouco” nos dias de hoje já é muito.
Então, ao leitor que chegou até o final do texto – ressalto, sem ser enganado em momento algum, pois desde o início deixei claro que não faria nenhuma grande revelação sobre o tema – tenho um convite a fazer. Tente se arriscar mais daqui para frente, tente ser mais corajoso no seu dia a dia, implemente isso de fato na sua vida. Se não por você mesmo, faça pelos que estão próximos de você (família, amigos, cachorros e gatos, enfim, sem preconceitos), ou, se quiser ser mais generoso, faça pelo bem maior (da humanidade mesmo, sinta-se um humanitário). Mas só faça. Tenha certeza de que você estará com esse pequeno grande gesto, criando um verdadeiro efeito borboleta ao seu redor.
E aos que, ainda insatisfeitos com a conclusão deste humilde texto, esperam uma grande revelação, arrisco-me em uma: você não é chato, só é medroso.
Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa. Contato: [email protected]
Brilhante texto, Mariana.
Brilhante!