Como são formados os nossos sonhos? Não falo de sonhos de quando estamos dormindo, mas sim do que ansiamos na vida, das expectativas que temos sobre as coisas, do que queremos realizar, do que nos traz alegria só de imaginar, estando bem acordados. Sonhos são muito particulares, cada um tem o seu, sendo que o que é considerado incrível para um pode ser um completo pesadelo para o outro. Mesmo assim, como dito, cada um tem o seu, alguns almejam coisas grandes, outros coisas tidas como mais palpáveis; alguns conservam os mesmos sonhos por muito tempo, outros mudam a cada mês.

Não sei se a genética tem alguma relevância nessa questão, tendo a acreditar que as vivências de cada um acabam sendo um fator importante. Mas só isso também não explica por completo, pois se assim fosse irmãos almejariam sempre as mesmas coisas, o que não acontece. Por isso, acho que a personalidade de cada um também tem uma boa parcela de influência na formação dos sonhos. Seria então um mix de experiências de vida e personalidade a resposta? Provavelmente tenham muito mais coisas envolvidas aí do que isso, mas supondo que tenhamos chegado a uma resposta satisfatória, embora não completa, à indagação inicial, faço agora a segunda e, confesso, principal indagação: os sonhos morrem?

Existem momentos em que estamos tão distantes dos nossos sonhos que paramos de pensar neles completamente, isso já aconteceu comigo e provavelmente já aconteceu com você também. Seja por conta de decisões que tomamos, ou mesmo pela falta de opção que tivemos, sendo levados a seguir por determinado caminho. Fato é que a vida acontece, e os nossos planos iniciais vão ficando cada vez mais distantes, sem nenhum atalho aparente para que possamos retomá-los. Boa parte das vezes acabamos formulando novos sonhos, ou reformulando os antigos para que se adequem à atual realidade. Mas nem todo mundo consegue desapegar dos sonhos antigos, e aí
simplesmente não pensam mais sobre o assunto e nem adquirem novas ambições, e é aí que fica a minha dúvida. Nestes casos, não há mais sonho algum?

Eu acho que é daí que vem grande parte das frustrações, pois os sonhos não simplesmente desaparecem de nós, eles só ficam escondidos, mas continuam lá, a todo vapor, mesmo que no inconsciente. Claro que se conseguimos adaptar nossas aspirações, tanto melhor para nós, mas às vezes aquela vontade inicial é tão forte que não pode ser substituída, e aí nos lascamos. Porque ou iremos em algum momento atrás dessa realização, ou seremos frustrados, muitas vezes sem nem se dar conta do real motivo. O engraçado é que para algumas pessoas o que elas almejam já está tão distante do consciente delas que nem elas lembram mais, mas ainda assim sofrem os efeitos dessa falta de memória, com uma insatisfação intensa ou uma falta de vontade de viver.

Apesar de ser cada vez mais difícil ter tempo para pensar em sonhos nos dias de hoje, devemos fazê-lo de tempos em tempos. Devemos rever nossas vontades, recalibrar o que seja necessário, mudar o curso do que for possível. Mas quando nos depararmos com algo que não seja possível mudar, devemos ter consciência desse desejo, é importante que ele esteja ali visível. Na minha opinião, melhor saber o que te aflige e tentar de alguma forma ficar em paz com isso, do que esconder embaixo do tapete e ficar mal sem sequer saber o porquê. Para terminar este texto com tantas perguntas, me atrevo a deixar mais uma: você sabe realmente quais são os seus sonhos?

Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.