Vocês já pararam para pensar sobre as grandes e importantes mudanças na vida de vocês? Como elas aconteceram? Por que? O que foi que motivou ou acionou? Enfim, o que aconteceu antes da mudança realmente acontecer?

Pois é, outro dia, estava lendo o livro “No Brechó da Alma”, de autoria de uma psicanalista de quem tenho o privilégio de ser amiga, Ana Maria Mac Dowell Gonçalves e me deparei com um trecho que gostaria de compartilhar com vocês.

“ ……é a alma que está batendo à porta, avisando que ficou de fora: fora do trabalho que fazemos, fora das relações que vivemos, fora do dia a dia que temos. Quando a alma fica de fora, o brilho da vida some. Não, não é a “alma” no sentido religioso. É o que em inglês se chama soul, ou o que de outras formas, é chamado de essência, de Self, de Desejo. Enfim, algo que, lá do fundo de nós, se encarrega de nos sacudir e acordar para o “mais” que podemos ser, ou o “menos” que está acontecendo em nossas vidas, …….”

E ai pessoal ?????

Que tal esse parágrafo??? Tocou vocês de alguma forma? Alguém já se sentiu sacudida  pela alma alguma vez?

Eu, na mesma hora, que li esse trecho, fechei o livro e parei para refletir um pouco sobre minha vida….. sim, minha alma já me sacudiu, tantas mudanças já aconteceram!  

Em que momento elas aconteceram? De que maneira a mudança foi decidida ou desencadeada? A maioria das vezes, se rebobinarmos a fita (pronto, denunciei minha idade. Ok, eu confesso, 65 anos), isto é, se voltarmos um pouquinho de marcha a ré, a partir de um fato realmente importante, o momento em que uma mudança transformadora aconteceu, nós vamos concluir que apenas uma coisa  fez toda a diferença; era a alma que estava nos cutucando, dando cotoveladas, se esperneando para que a gente lhe desse atenção.

Hoje, consigo entender que às vezes, ela se cansa de insistir, de ficar batendo a nossa porta, então se disfarça e aparece de outro jeito para ver se a enxergamos. Se não podemos ouvi-la, quem sabe podemos enxergá-la? Ela pode surgir com um camisolão fantasiada de depressão, descabelada em forma de ansiedade, bem irritada em forma de agressão….mas, algumas vezes, ela pode vir  apenas, bem desleixada, largada, como se estivesse indiferente a tudo, dando apenas leves toques na porta, com batidinhas sutis como se estivesse sem força. Ela chega apenas desanimada, ( sem animus, o mesmo que sem alma).  Sim, ela tem inúmeros recursos, nós é que precisamos ter a sensibilidade de identificá-los!!!

Ainda bem, que eu, todas as vezes, mesmo demorando um pouquinho para sair do do meu sofá, o meu lugar  supostamente confortável, acabava me movimentando e gentilmente lhe abria a porta. Pedia que entrasse e deixava que ela se mostrasse e falasse exatamente  o que estava querendo me dizer. Eu a escutava com meus ouvidos carinhosos e acabava por perceber o quanto eu estava aprisionando-a.

Sempre que optei por libertá-la  e a segui, tudo deu muito certo, mesmo que de início  estivesse me sentindo indecisa, despreparada, um tanto assustada. Normalmente ela estava animada demais ou com pressa e mesmo assim eu a acompanhava. Às vezes, eu ia  até meio esbaforida, com dificuldade para acompanha-la, me sentindo um pouco insegura, mas respirava fundo e seguia em frente. Para minha surpresa, cada vez ela me levava por caminhos inusitados, diferentes, coloridos, cheios de novidades, energia e entusiasmo. Não que tivessem sido caminhos livres de obstáculos, mas em todos ela me dizia que aqueles fatos, eram apenas desafios e que valeria a pena continuar a ultrapassá-los, pois era essa a graça da coisa, para se chegar a uma verdadeira situação maravilhosa, onde a gente pudesse se sentir viva de verdade. Essa excitação de sair da  zona de conforto, ir para o novo, para a zona de aprendizagem, é o que valia a pena, tanto para o desenvolvimento pessoal como profissional. Não deveria jamais ficar estagnada, para meu próprio bem estar.

Mesmo agora, quando meu sofá, minhas pantufas e minha mantinha parecem tão sedutores as vezes, ela já me conhece bem e sabe como me driblar e  me convencer a continuar seguindo-a. Ela é bem mais jovem, mais disposta e mais antenada que eu. Ela fica argumentando sem parar, que, se eu segui-la, só posso me dar bem. Que  esse é o meu jeito de me sentir feliz. Ok, tá tudo certo. Acabo cedendo.

Conclusão:  é por causa dela, dessa minha  alma agitada e irrequieta, que além de trabalhar,  acompanhar o marido, cuidar dos netos de vez em quando, ter meus grupos de amigas, etc… ainda estou hoje em dia  ensaiando 3 vezes por semana para dançar na apresentação da Escola de ballet no final do ano. (Musical Mamma Mia)  Olhem bem para onde ela me leva…….. Pode???? (Mas cá entre nós, apesar do desafio, estou me divertindo muito. Ela sabe que sempre amei dançar.)

Obrigada minha Alma, por me mostrar o caminho, por ser minha Mentora, por insistir  que eu lhe dê atenção, pois você, só você, sabe o que é melhor para mim.