Você é uma pessoa que fica bem sozinha? Muita gente que responderia “sim” à essa pergunta, ao fazer uma análise um pouco mais profunda pode descobrir que, na verdade, não consegue ou gosta de ficar sozinha.

Alguns exemplos disso são pessoas agitadas, que não conseguem ficar quietas, cuja perspectiva de ter que passar um tempo só gera ansiedade, desconforto, medo. Algumas clientes buscam programas TODOS os dias da semana. Elas nem querem sair, mas o fato de pensarem em ter que passar algumas horas só com elas, já as impulsiona a buscar companhia. Vale qualquer programa, desde que não tenham que ficar em casa.

O que provoca esse medo? Muitas dizem que quando estão sozinhas, principalmente em fases mais conturbadas da vida, acabam tendo que enfrentar alguns fantasmas internos. Têm que olhar para dentro, mesmo, encarar a tristeza, a dor e o mal estar que uma análise interna pode trazer. E ainda que a fase de vida esteja boa, o estar sozinha as deixa irrequietas, não sabem como ocupar seu tempo e isso acaba sendo frustrante e as deixando tristes.

E não pensem que isso se aplica apenas às mulheres solteiras. Muitas mulheres casadas também sofrem desse medo. A simples idéia do marido ou dos filhos se ausentarem causa arrepios. Se sentem “inúteis” e improdutivas. É como se faltasse um pedaço delas, como se perdessem seu propósito.

Como lidar então com essa questão? Vou me usar como exemplo, se vocês permitirem, pois foi um grande aprendizado que tive e que gostaria de dividir com vocês. Quem sabe a minha experiência possa servir para alguém. Confesso que eu demorei para me sentir à vontade sozinha. Em 2004, quando fui morar fora para fazer meu mestrado, era casada há três anos. Foi a primeira vez na vida que tive que ficar realmente só. Afinal, morei com meus pais até casar. Nunca tinha sido obrigada a passar tanto tempo comigo mesma. Aquilo me causou angústia, desconforto, medo. Sempre tinha tido pavor de ficar sozinha. Medo do julgamento das pessoas ao olharem para mim e ficarem com pena (como se eu fosse aquela pessoa sem amigos e sem ninguém no mundo). Medo de não saber ocupar o meu tempo. Medo de não ter companhia. Medo do meu ex-marido deixar de gostar de mim (ele ficou no Brasil nesse período).

Apesar de todos esses medos, lá fui eu! E querem saber? Foi uma das melhores experiências da minha vida. O início foi muito desafiador. Evitava comer fora de casa, ir a museus ou fazer qualquer outro programa sozinha, só para não ter que aguentar os olhares das pessoas (que na verdade, não estavam nem aí para mim, mas na minha cabeça estavam me julgando).  Fui me obrigando a encarar meus medos e minhas crenças. Cada dia, dava um pequeno passo. Primeiro, saí para almoçar. Num outro dia, fui à uma exposição. E assim por diante. Fui notando que ninguém estava preocupado se eu estava acompanhada ou não. Inclusive, muitas das pessoas à minha volta também estavam desacompanhadas e absolutamente confortáveis.

No final do meu período fora, já viajava, passeava, fazia inúmeros programas sozinha. Não vou dizer que me sentia 100% confortável, mas amadureci muito nesse tempo que passei fora. Embora sempre tenha sido uma pessoa independente, sempre gostei muito de companhia (e gosto até hoje). Mas percebi que existem outras formas de nos divertirmos, mesmo sem ter alguém ao nosso lado. Passei a me conhecer melhor. Ter mais certeza dos programas que gosto, das coisas que aprecio. Foi uma maravilhosa oportunidade de me conectar comigo, de saber mais sobre mim. Mas ainda havia um longo caminho a percorrer.

Nesse meio tempo, acabei me separando. Depois de oito anos de casamento, lá estava eu, sozinha. E dessa vez não era temporário… Deu medo, muito medo. Passei os primeiros meses buscando loucamente por companhia. Era um tal de ir a festas, almoços intermináveis, jantares que adentravam a noite. Evitava ficar só a qualquer custo, pois doía e me fazia lembrar da nova fase em que me encontrava e da qual eu não gostava nem um pouco.

Aos poucos, fui cansando do agito. Os momentos de solidão pareciam muito piores logo após o agito. Era como se eu fosse ao ápice e caísse num precipício logo na sequencia. Dava uma sensação de vazio, batia uma deprê. Senti então, a necessidade de passar tempo comigo e enfrentar os meus “demônios”. Afinal, podemos fugir do problema e fingir que não existe, mas ele continua ali, à espreita, só esperando para dar o bote e nos lembrar da existência dele. Então, a melhor opção foi mergulhar de cabeça para tirar esse “monstro” da frente o quanto antes.

E querem saber? A jornada interior foi maravilhosa! Se já tinha aprendido muito sobre mim quando morei fora, tive a oportunidade de aprender mais ainda na fase pós separação. Me centrei, me inteirei. Pela primeira vez na vida, me apaixonei por mim. Nunca tinha parado para prestar tanta atenção em mim mesma. Bastante compreensível, já que saí da casa dos meus pais aos 25 anos de idade direto para um casamento. Não tive tempo de realmente me conhecer na minha fase adulta. Tudo que eu fazia era a dois. Não tinha os “momentos da Ruth”. E eu nem questionava a ausência deles!

Porque ao contrário dos homens, que mantêm suas atividades e hobbies independentemente de estarem ou não num relacionamento, as mulheres têm a tendência a abrir mão de tudo pela relação. Quantas clientes que namoram há tempos ou são casadas não comentam que perderam sua individualidade? É normal. A mulher se joga mesmo. O perigo é que no processo, pode acabar se prejudicando porque esquece dela mesma.

Essas descobertas todas somente foram possíveis porque fiquei só. Aprendi então, a gostar de ficar sozinha. Passei a apreciar meus momentos comigo. Descobri muito sobre mim, sobre o que gosto, o que quero para mim e o que espero. Percebi que, numa relação a dois, deve haver um limite entre a vida do casal e os momentos de cada um. Cultivar a individualidade é um importante elemento para que uma relação se mantenha, mas acima de tudo, para que nós nos valorizemos.

E não confundamos individualidade com egoísmo. Não há mal algum em querermos ter um tempo para nós, até porque o contato conosco nos permite evoluir continuamente. Nesses momentos, temos a oportunidade de nos avaliar, nos questionar, nos ouvir, cuidar de nós e fazer escolhas alinhadas com nossos valores.

Por isso, estar sozinha não só pode ser muito bom, como pode sim ser uma OPÇÃO.

Se você tem medo de ficar sozinha, porque não fazer uma lista atividades que te dão prazer e que não precisam necessariamente de um acompanhante? Como ler um livro, tomar um banho de banheira, ouvir música, assistir um filme, meditar, dar um passeio no parque. Reserve pelo menos uma ou duas horas por semana para estar só. Passe tempo com VOCÊ. Aprenda a apreciar a SUA companhia.

No início pode parecer estranho e desconfortável, mas aos poucos, a coisa se tornará tão natural que, nas épocas em que você não puder ficar sozinha (por questões familiares, de trabalho ou sociais), você sentirá saudades de você!