Um dos maiores desafios da atualidade é conseguir viver no presente, já repararam? Por isso o sucesso enorme da filosofia Mindfulness, que prega a atenção plena ao momento presente. Vivemos angustiados com coisas do passado ou ansiosos por coisas do futuro, mas esquecemos de prestar atenção na única coisa que realmente existe, o agora. Parece algo simples, mas se você reparar bem nos seus pensamentos ao longo do dia você verá que provavelmente você passa a maior parte do seu tempo ou no passado ou no futuro. Não que você não deva pensar no passado ou se preocupar com o futuro, é necessário que isso aconteça, seja para não repetir erros ou para relembrar bons momentos, seja para definir objetivos e ter sonhos. O que acontece, até onde eu sei (não li o livro), é que há um desequilíbrio muito grande entre o quanto pensamos no presente e o quanto pensamos no passado/futuro, sendo que estes últimos acabam prevalecendo sobre o primeiro, quando deveria ser o contrário.

Tudo isso para falar de expectativa, que é a “situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento”, ou seja, menos Mindfulness impossível. Mas como lidar com a expectativa, como não criá-la? Adoro quando as pessoas falam “crie __ (e aqui você pode preencher com absolutamente qualquer coisa), mas não crie expectativa”, é igual quando estamos nervosos e alguém fala “calma”. Simplesmente não funciona assim. Não sei se sou só eu, mas quando eu quero muito alguma coisa, eu sempre crio expectativa sobre aquilo, por mais que eu fale que não. O que a maturidade me trouxe – entenda-se quebrar muito a cara com as coisas não saindo como eu gostaria ou simplesmente dando errado mesmo – foi um controle um pouco maior sobre a minha expectativa. Funciona assim: eu começo a pensar que as coisas podem não sair como eu espero e me lembro das diversas situações em que isso aconteceu. O pensar positivo aqui passa longe. Dessa forma, o que eu consigo fazer (às vezes) é não deixar a minha expectativa escalar e
ficar maior, mas ela está sempre lá, de um jeito ou de outro.

Todo o problema de se criar expectativa é que a decepção depois é maior se as coisas não saem como o esperado. E isso é uma droga. É muito difícil de controlar, não existe uma receita de bolo simples que é só seguir e pronto. Mas também não morri até hoje por nenhuma das decepções sofridas pelo caminho, chorei, sim, mas estou viva. E, no final, a cada decepção vamos mudando um pouco nossa relação com a expectativa.
Como eu disse, hoje consigo fazer com que ela não escale tanto como antigamente, mas ela sempre dá as caras. Não sei se para mim um dia vai ser possível não ter expectativas, se fosse chutar um palpite diria que não. Acredito que com o tempo eu aprenda a lidar melhor com ela do que hoje, mas não me vejo sem criar expectativas sobre coisas que eu quero muito, nem que seja de forma mais serena.

Decidi escrever este texto porque no momento estou me esforçando bastante para não escalar minha expectativa sobre algo que estou esperando uma resposta, mas confesso que já pensei em vários cenários considerando uma resposta positiva. Aí começo a fazer o exercício de pensar que pode não dar certo e nada daquilo acontecer, e que mesmo que aconteça pode não ser como eu estou imaginando. Enfim, fico nesta eterna briga interna. Parece como quando a gente joga na loteria, sabe? Até sair o resultado você se sente um pouco como um milionário, começa a pensar nas mil coisas que você faria com um dinheiro que nem é seu ainda (e que estatisticamente, neste caso, dificilmente será). Talvez esteja aí o segredo, devemos tentar aplicar a “teoria da loteria” (acabei de criar) para lidar com as nossas expectativas.

Segundo essa teoria, recém-saída do forno, poderíamos aproveitar somente o lado bom da expectativa, ou seja, pensar nas possibilidades e nos bons cenários. E, na hipótese de as coisas não saírem como gostaríamos, vida que segue. Afinal, quando você perde na loteria você nem se chateia, né? O problema aqui é que na loteria você sabe que as suas chances de ganhar são ínfimas, enquanto no dia a dia várias vezes superestimamos nossas chances de conseguir o que queremos. De qualquer forma, vou continuar aqui gerenciando o quanto possível a minha expectativa. Mas que seria bom se tudo saísse como eu estou imaginando, ah isso seria…

Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.