Certa vez eu estava com um grupo no trabalho, cerca de umas 10 pessoas, e perguntaram quem tomava ou já havia tomado antidepressivos e/ou ansiolíticos. Para a minha surpresa, todos responderam sim à esta pergunta, menos eu. Nestes últimos anos várias amigas minhas também passaram por períodos de depressão, algumas ainda lutam com isso hoje. Eu mesma já tive recomendação para tomar reguladores de humor, mas acabei decidindo não tomar. Não sei se nessa época o que eu tinha podia ser caracterizado como depressão, então, a verdade é que eu não sei se já tive depressão de fato, o que torna muito mais difícil escrever sobre o tema. Mas isso é algo que me pergunto: como saber diferenciar tristeza de depressão?

Eu já li e você já deve ter lido também que a depressão pode se dar de várias maneiras. Aquela ideia de antigamente de que quem tem depressão não consegue sair da cama, tomar banho e esboçar um sorriso é ultrapassada. Hoje sabe-se que muitas vezes mesmo pessoas próximas por vezes não percebem esta condição. Quantas histórias sobre pessoas tidas como alegres e bem-humoradas não vêm à tona depois de algum acontecimento trágico, quando só então se descobre que a pessoa sofria com depressão havia anos. Então, acaba havendo uma linha muito tênue entre a tristeza profunda que a vida nos causa por vezes e a depressão em si. E, a meu ver, essa linha tem sido mais esticada para o lado da depressão ultimamente. Não sei se as pessoas estão sofrendo de forma mais intensa hoje do que antigamente, ou se estamos simplesmente não sabendo lidar com os sentimentos desagradáveis que aparecem ao longo da vida.

Acredito que existem casos em que ocorre um desequilíbrio químico no cérebro, sendo necessário o auxílio de medicamentos para que a pessoa consiga voltar ao seu equilíbrio normal. E não sou, em absoluto, contra o uso de remédios que ajudem nesse processo. Ainda bem que eles existem, que o conhecimento humano avançou a ponto de permitir a existência de uma “corda” que vai te ajudar a sair de um buraco que sozinho talvez fosse muito difícil conseguir sair. Mas até que ponto todo mundo realmente precisa se medicar, até que ponto hoje em dia todos precisam de reguladores de humor, até que ponto não estamos querendo passar anestesiados pela parte desagradável da existência? Como eu disse, sei que existem casos e casos, e que em alguns casos os medicamentos são sim necessários. Meu ponto é: como saber quando eles realmente são necessários?

Recentemente uma amiga comentou que estava tomando antidepressivo porque o ano anterior dela havia sido muito difícil. E sim, o ano anterior dela havia de fato sido muito pesado, com doenças na família, morte, e tudo isso em meio a uma pandemia. Pode ser que o remédio tenha sido a melhor alternativa para ela naquele momento, eu não sou especialista para saber. Mas fico me perguntando quando a vida se tornou tão difícil de suportar que passamos a ter que nos medicar tanto, muitas vezes por anos a fio. Quando a tristeza humana passou a ser algo inaceitável e absolutamente combatido? E, diante desse contexto, como saber quando o que sentimos está dentro da normalidade, por pior que seja o sentimento, e quando não está e precisamos realmente de ajuda?

Hoje, sei que não estou com depressão, o que não significa que eu não sofra (e muito) por várias questões, questões que me são muito caras e sérias. Mas sigo aqui, sentindo uma montanha russa de coisas ao mesmo tempo. A vida é cheia de surpresas e eu não sei o dia de amanhã, não sei se um dia ainda vou precisar tomar antidepressivos. O que eu sei é que, nesse mundo cada vez mais doido, hoje, pelo menos hoje, eu acho que tô bem.

Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.