O decorrer do ano tem um certo ritmo. Ele sempre parece começar bem preguiçoso, como se tivesse acabado de acordar mesmo. Aí lá pelo seu meio as coisas começam a tomar um ritmo bom, projetos se desenrolam, alguns planos são feitos, tudo a um passo ainda relativamente tranquilo. Mas quando passa o mês de julho algo muda, e muda completamente. O segundo semestre para mim parece ser composto de apenas 2 meses, enquanto o primeiro comporta os outros 10. Pelo menos esta é a minha sensação, pois sinto que estou correndo contra o tempo a cada semana e que o ritmo vai acelerando conforme o tempo vai passando, e quanto mais perto de dezembro chegamos, mais rápida e intensa fica essa corrida.

Um dos fatores que influencia isso são os encontros de final de ano. Todos queremos nos encontrar antes que o ano termine, em boa parte para celebrar o período de festas e em boa parte porque acabamos não nos encontrando tanto quanto gostaríamos nos meses antecedentes. Faço exatamente isso. Fico tentando encontrar vários grupos de amigos nessa época, talvez numa tentativa de “equilibrar” (bem porcamente, diga-se de passagem) o tempo que passou. Coloco entre aspas porque a verdade é que passo o resto do ano sem de fato encontrar diversas pessoas que me são importantes, sempre por falta de tempo e incompatibilidade de agendas. E então nos meses sabidamente mais corridos, acabamos magicamente conseguindo nos encontrar. É, não faz muito sentido mesmo. Prioridades são prioridades.

No primeiro semestre temos sempre aquela impressão de que ainda temos muito tempo até que o ano termine, e não desenvolvemos um senso de urgência para as coisas. Aí fazemos o que somos mestres em fazer, adiamos. Adiamos encontros, projetos, planos, sempre com a sensação de que teremos muitas oportunidades para lidar com tudo isso no futuro. Quando o futuro chega percebemos que superestimamos o nosso tempo restante, e que para fazer tudo o que gostaríamos até o ano acabar teremos que correr. Assim é dada a largada. E ano após ano é a mesma coisa, sempre o mesmo enredo, caindo lindamente na falácia de planejamento.

Eu, no geral, não sou uma pessoa que tem dificuldade em planejar e cumprir as coisas a que me proponho. Mas, mesmo para mim, essa é uma realidade. Como eu disse, tendo a ficar toda atrapalhada tentando encontrar pessoas importantes para mim nos últimos meses do ano. Aí isso, somado às diversas demandas que aparecem de última hora (neste caso, muitas vezes porque outras pessoas deixam as coisas para depois), resulta em um tempo apertado para fazer tudo o que quero fazer. Em certa medida, toda essa loucura até tem seu lado positivo. A verdade é que às vezes só funcionamos sob pressão mesmo, sentindo que temos um prazo, do contrário passamos tempo demais procrastinando. E o nosso prazo aqui, claro, chama-se final do ano.

O ano passa como se fosse a contagem do tempo em uma ampulheta. No começo, quando você olha a areia caindo, ela parece ir devagar. Mas com o passar do tempo e a proximidade do seu fim, parece que a areia cai muito rapidamente. A velocidade com que o ano passa não muda de um semestre para outro, assim como a areia não passa cada vez mais depressa de uma âmbula para outra. O que talvez aconteça seja uma certa confusão com as nossas prioridades, e uma consequente culpa relacionada a isso, que juntas fazem com que tentemos e consigamos fazer o que adiamos por diversas vezes em outros momentos do ano, mas tudo isso regado a muita correria. Fica a reflexão. Mas o fato é que o fim do ano está se aproximando, a correria está acelerando e, assim que a ampulheta virar, vamos começar tudo de novo.

Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.