Estava vendo uma série recentemente e me chamou atenção uma parte em que as personagens tinham que escrever sobre “o melhor dia de suas vidas”, tendo ele já acontecido ou então como seria se acontecesse. Fiquei com isso na cabeça, pensando em qual tinha sido o dia mais feliz da minha vida até aqui. E não consegui escolher um dia. Vários momentos felizes me vieram à cabeça, mas escolher um como sendo melhor do que os outros não me pareceu tarefa fácil. Algumas pessoas talvez escolham marcos, como ter um filho, se casar ou comprar a casa própria. Nada disso aconteceu comigo de fato ainda, então, não tenho como dizer se este seria o dia mais feliz de todos. Mas talvez, pela própria natureza da minha personalidade, eu não conseguiria, mesmo com a experiência dos marcos mencionados, estabelecer um dia que fosse o melhor de todos.

Não sou a pessoas mais coesa que existe, e, por isso, muitas coisas diversas e por vezes não compatíveis me fazem feliz na mesma intensidade. Isso torna difícil a escolha de uma experiência em detrimento de outra, quando ambas me marcaram tanto e estão guardadas em compartimentos diferentes dentro das minhas memórias. Boa parte das minhas memórias mais felizes estão ligadas a viagens que eu fiz, outra boa parte a momentos específicos ao lado de pessoas especiais, outra parte diz respeito a conquistas pessoais e significativas, e por aí vai. São tantas categorias. É quase a mesma coisa de perguntarem o que eu gosto mais, ouvir música ou ir ao cinema? Não existe resposta certa para mim à esta pergunta, pois são coisas completamente diferentes entre si, não sendo possível compará-las. O prazer que elas proporcionam não é excludente, mas complementar, e distinto.

Na série que mencionei, a personagem principal passa por momentos muito traumáticos e descreve o dia que seria o mais feliz para ela como ainda por chegar. E ali faz todo sentido o que ela descreve, pois seria como se fosse o dia da sua libertação. E nessas situações eu acho que tem muito mais peso se ter um dia específico como sendo o ápice da felicidade, pois quando se está em uma situação extrema em que a sua própria liberdade e vontade são tolhidas, somente no dia em que você finalmente se sente livre é que sua vida tem chance de começar de verdade. E isso pode valer para qualquer outra situação, como o dia em que a pessoa percebe que não está mais com depressão ou que se curou de uma doença grave. Sempre que por algum motivo não seja possível ser livre para realmente viver acho que o momento da “libertação” deve ser um forte candidato ao posto do melhor dia.

Como não passei por traumas tão extremos acabo não tendo esse tipo de marco para definir isso. O que eu acho ótimo, não me levem a mal. Na verdade, ninguém deveria passar por situações assim. Acabei chegando à conclusão de que não conseguir definir um dia específico pode no final ser uma coisa boa, já que isso ocorre, no meu caso, não por falta de dias bons, mas talvez por falta de dias extremamente ruins. Espero ainda ter muitos melhores dias na minha vida, mas prefiro continuar não conseguindo decidir por um só. Consigo imaginar uma infinidade de situações diferentes que fariam o meu dia ser um dos melhores até então, espero conseguir realizar cada uma delas, e que no final eu tenha uma coleção bem diversa de melhores dias da minha vida. Uma coleção bem do meu jeitinho, confusa, por vezes caótica, mas que faça todo sentido pra mim.

Mariana Morita
Interessada pelo comportamento humano, observadora do cotidiano e eterna curiosa.